O Gato de Alice

— Dá licença? Posso abordar o senhor. Meu nome é Firmino e passo todos os dias aqui na frente da sua casa. Vejo sempre o senhor olhando para esta moldura aí.
— O que tem de estranho nisso meu Jovem. Eu me chamo Antônio! Percebo que hoje é o dia do seu aniversário!
— Ué! Como sabe isso? O senhor já me conhece? Quem te contou que hoje é o dia do meu aniversário?
— Venho notando sua passagem pela calçada já faz alguns meses. Não sei precisar quanto tempo.
— Mas notar que passo em frente a sua casa, é uma coisa, mas descobrir que hoje é o dia do meu niver, é muito diferente. Tenho certeza que alguém lhe contou! Quem lhe contou?
— Ora, ora. Foi você próprio quem me contou! Não percebe?
— Perceber o quê? Eu nunca conversei com o senhor antes! Como pode isso?
— Meu rapaz, embora seja muito observador, não é um sujeito perspicaz. Sempre deixamos em nossos rastros muitas pistas. Quem somos! Para onde vamos! De onde viemos.
— Não é possível! Nunca deixo marcas por onde passo. O senhor só pode estar brincando comigo.
— Filho, desde que a idade chegou para mim, perdi a habilidade de brincar. Quando eu era jovem, assim como você, sonhava em ser um exímio jornalista policial. Daqueles que descobrem tudo pelas pistas deixadas pelos criminosos. Era minha diversão imaginar o que faziam ou havia feito cada pessoa que passava próximo a mim.
— E porque não realizou seu sonho? O que lhe impediu de virar um jornalista?
— De fato não faz parte das suas habilidades enxergar bem as coisas! – Você tem curiosidade de olhar essa moldura que está em minhas mãos?
— Bem, curiosidade eu tenho. Aliais, foi o que me fez vir até aqui. Posso lhe chamar por você?
— Tome então! Pegue esse porta-retratos e veja você mesmo o meu tesouro.
— Como assim? Não tem nada nesse porta-retratos! O que aconteceu com a foto que havia aqui?
— Não aconteceu nada meu estimado amigo. A foto que procuras está nos olhos de quem a vê.


Deixe seu cometário